Praia
Estou de férias.
Estou, realmente, de férias.
Não que antes estivesse a trabalhar, mas agora estou num sítio que não é a minha casa.
Estou na praia.
A praia irrita-me às vezes. Quando, por exemplo, imaginemos, vem UMA RAJADA DE VENTO E ME MANDA AREIA PARA AS TROMBAS E PARA O MEU LIVRO, AREIA ESSA QUE SE ENTRANHA NESSE MESMO LIVRO E QUE O ESTRAGA, penso que é normal eu ficar irritado.
Mas isso é apenas um suponhamos. Não que me tenha acontecido hoje. Não. FOI ONTEM.
Este ano está difícil tomar banho em Sesimbra. A água está fria, cá fora está vento.
Supomos que eu chego à praia:
Abro a sombrinha. Estendo a toalha. Tento ler mas não posso, porque o vento faz-se sentir, e não quero ler a página 248 antes da 53. Vou ao banho. Cá fora, 35 graus, lá dentro, 9. Entro na água. Tento sair, mas entretanto dou de caras com um pinguim e duas focas-leopardo. Saio da água. Outra rajada de vento. Com ela, vinte quilos de areia e um camião cisterna. Levo com uma bola na cara. Uns rapazes andam a jogar futebol. Não ligo, e continuo a andar. Por esta altura, a metade de mim virada ao vento parece um panado, por causa da areia. Sacudo a toalha e estendo-a ao Sol. Deito-me. Ao meio-dia e meia penso "Vou almoçar", e se perfeitamente o que vou comer: sandes de queijo e chourição com areia. E sei que tudo o que eu comer vai ter areia. Acabo de comer e levo com um guarda-sol. Como banda sonora tenho o Despacito. E os Dama. E outras coisas inidentificáveis. Da direita ouve-se "Olh'á bola!". Pela esquerda vem "É frut'óó chocolate!" Chegam à praia africanos a vender pulseiras. No meio disto, tento ler. Não consigo. Mas é praia.
E praia é praia.
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